Vale tudo pela fama?

POSTADO POR: admin sex, 30 de outubro de 2015

 A corrida maluca do YouTube 
Estávamos, Ernesto e eu, entornando uma garrafa de rum e conversando sobre a avalanche de canais de humor (e de tantos outros gêneros) que vemos no YouTube. Ernesto dizia que eu sou melhor escritor que ator. E eu, ainda que contrariado (não vou negar), o deixei desfilar com sua opinião.
– Você até que não é ruim, mas esse lance de YouTube tá cheio de bagaça.. Não curti ver os teus vídeos não. Fica lá perdido, no meio da nuvem. Parece que todo mundo é artista agora.
– Eu curti fazer no começo, foi um bom retorno, mas a literatura me deixou preguiçoso.
– Como assim?
– O papel não enche o saco, não tem ataque de ego, não fala no seu ouvido, não faz intriga, não marca horários impossíveis… Na escrita é você com seus pensamentos, seu universo, seu tempo. O ator pode ser chato pra caralho.
– Mais que o escritor?
– Sim.. Certamente sim.
Ernesto não entendeu o meu retorno a carreira de ator. Ele citava minhas publicações na Europa, as indicações a prêmios literários, a coluna, para logo depois me acusar de desistência. Não é verdade.. Eu apenas uni meus conhecimentos para tentar viver de arte neste país. Sou dublador também. Quando voltei aos roteiros de humor, Ernesto quis explodir minha casa. Quando disse que ia me casar, Ernesto apareceu com três garotas de programa e uma garrafa de uísque para me salvar. Ernesto sempre foi um bom amigo, e o mais louco deles.
– Pitz, aqueles caras fazem de tudo para ganhar fama.
– Nem todos..
– A maioria!
– Eu fiz pra ganhar dinheiro, e por vontade de fazer um trabalho legal também. Esqueceu que eu sou ator de formação. Estudei essa merda!
– Estudou pra ser ator no YouTube?
Essa pergunta não teve resposta, apenas sorri e dei um gole farto. Meu amigo não percebeu que o YouTube foi a maior jogada democrática da história do áudio visual. O YouTube permitiu que as ideias de qualquer um se transformassem num canal, com programas semanais diferentes, tirando aquela necessidade exclusiva da TV. E de repente vieram as celebridades da internet, sim, pois muitos desses caras realmente tinham conteúdo e alcançaram uma faixa de publico por identificação (e souberam interagir). Eram bons, mas não tinham chance de expor seu trabalho para quem quisesse ver.  É claro que nesse turbilhão democrático apareceu e aparece muita gente com intuito único de ser famoso, sem conteúdo algum. Quinze minutos de fama e pronto. Mas não é regra. Acontece o mesmo na literatura.
O YouTube passou a ser uma peneira de novos talentos, e é isso que move tanta gente a tentar a sorte com seus vídeos: a esperança de ganhar fama e dinheiro, ou simplesmente o devido reconhecimento profissional.
– Você vai continuar gravando?
– Se aparecer uma coisa legal… Claro que sim.
– E os livros?
Apontei o baú de madeira no canto da sala.. Só ali repousam cinco livros ignorados esperando publicação. No computador, mais dois. Ficamos em silêncio e terminamos a garrafa.