5 Livros essenciais da literatura portuguesa
De certa forma, é compreensível que o nosso mercado editorial seja absorto por publicações de língua inglesa, principalmente pela nossa maior proximidade com a cultura norte americana. Infelizmente esta política também acaba nos privando da oportunidade de conhecer autores e obras notáveis de outros pontos do globo terrestre, e vice e versa, deixando a nossa literatura nacional muitas vezes isolada aqui na América Latina.
Mas, sendo o brasileiro um povo que sempre gabou-se de ter emergido de uma grande mistura de raças, acredito que essa nossa pluridiversidade também deveria manifestar-se em nossa leitura.
E se na última postagem sobre esse tema eu procurei explorar a sabedoria da literatura japonesa, desta vez vamos cruzar o além mar de volta até a ‘terrinha’ e redescobrir a enternecida literatura portuguesa. Já que, embora Portugal seja a nossa mãe pátria, a literatura portuguesa parece que fica cada vez mais distante das nossas livrarias. Claro, exceto, Fernando Pessoa. Esse todo mundo conhece, e por isso mesmo optamos por deixá-lo de fora desta lista.
Compartilho aqui cinco títulos portugueses que foram escolhidos a muito custo, entre autores clássicos e contemporâneos, que merecem uma prioridade na sua lista de leitura. E sabendo que certamente faltarão muitas obras que também merecem estar nesta seleção lusitana, desde já contamos com as sugestões dos leitores em nossos comentários para ampliar esta prateleira portuguesa.
✔ Os Maias, de Eça de Queiroz

Este romance é a dissecação da sociedade portuguesa de sua época. O clero e sua influência danosa ao pensamento e modo de vida portuguesa, as moléstias sociais da alta e média burguesia lisboeta, com seus inúmeros e desastrosos casos de adultério, os meios literários e políticos, sua corrupção e tacanhice intelectual.
Até hoje um dos melhores trabalhos de ficção em português, notável pela visão panorâmica de seu realismo, pela percepção psicológica… e pela caracterização irretocável dos tipos (Gayo Editorial).
✔ Memorial do Convento, de José Saramago

No epicentro desta história, está a construção do Palácio Nacional de Mafra, também conhecido como Convento. O monarca absolutista D. João V, cumprindo uma promessa, ordenou que o edifício fosse erguido no início do século XVIII, em pleno processo colonial, à custa de uma imensa quantidade de ouro e diamantes vindos do Brasil, além do sangue de milhares de operários. Dentre eles, havia um certo Baltasar, da estirpe de Sete-Sóis, inválido da mão esquerda depois de uma guerra, apaixonado por Blimunda, uma jovem dotada de poderes extraordinários. Indivíduos habitualmente não observados pela dita história oficial, mas que no entanto constituem seu tecido mais delicado e essencial.
Como em História do cerco de Lisboa e A jangada de pedra, em uma abordagem absolutamente inovadora do romance histórico, Memorial do Convento recupera as ilusões, fantasias e aspirações de um Portugal que se quis grande e eterno, ainda que frágil e delicado (Companhia das Letras).
✔ Os Cus de Judas, de António Lobo Antunes
Logo depois de voltar da guerra em Angola, António Lobo Antunes escreve ‘Os Cus de Judas’, sobre suas experiências naquele país. O romance se tornou um enorme sucesso, vindo a ser o primeiro grande livro sobre o conflito e a independência angolanos e uma referência histórica obrigatória. Numa narrativa não-linear e fragmentada, Lobo Antunes revela as inquietações existenciais de um ser humano, na indelével experiência de uma guerra, que se misturam às memórias de infância e juventude na Lisboa salazarista. O autor utiliza-se, na maior parte do romance, do fluxo de consciência e da associação de idéias, para construir a história e o perfil de seu narrador-protagonista, um personagem que, a partir de ‘uma dolorosa aprendizagem da agonia’, vê sua vida e seus valores estilhaçados pela melancolia. O que lhe resta são fragmentos de memória – a criança que visitava com os pais o jardim zoológico aos domingos, o jovem que assiste impassível a seu futuro sendo traçado pela autoridade inquestionável de uma família salazarista, o adulto apático e frustrado diante da violência que lhe retira as rédeas e o sentido da vida (Editora Alfaguara).
✔ Madrugada Suja, de Miguel Sousa Tavares
O novo romance do português Miguel Sousa Tavares acompanha as vidas desta família desde a Revolução dos Cravos, que derrubou a ditadura de Salazar em abril de 1974, até os dias atuais. O pai de Filipe, Francisco, ficou viúvo muito cedo e sempre pareceu alheio ao que acontecia na aldeia. Mas, com as mudanças políticas, ele parece encontrar na reforma agrária uma razão para viver e decide se mudar para uma fazenda comunal, deixando o filho único para ser cuidado pelos avós.
Filipe cresce nesta Medronhais da Serra fora do tempo, um lugar que tinha pouco mais de cinquenta habitantes e demorou muito a ganhar o seu primeiro aparelho de televisão. Ele se torna arquiteto e vai trabalhar em uma cidade costeira do Alentejo, onde passa a conhecer cada vez mais de perto as sujeiras da corrupção política. Ao tentar não se envolver num esquema de fraudes e propinas, voltará a ser assombrado pela trágica noite que viveu na juventude.
Narrado em um ritmo vertiginoso, que faz o leitor agarrar-se ao livro até o fim, Madrugada Suja alterna a voz de diferentes personagens a cada capítulo. Além de um retrato crítico e acurado sobre as mudanças em Portugal nos últimos quarenta anos, o escritor criou uma história fascinante sobre como os acasos da vida nos levam a situações-limite (Companhia das Letras).
✔ Combateremos a Sombra, de Lídia Jorge

Estamos perante um livro inquietante e pleno de mistério, que explora os meandros da alma humana e avisa sobre o destino dos homens. Uma tensão psicológica que conduz o leitor a um lugar de observação único, pela mão de uma escritora de excelência que nos mostra que nada de mais real existe do que o onírico, e nada de mais fantástico do que o real (Editora Leya).
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