7 Livros que redefinem o conceito de ser ‘louco’
De médico e louco, todo mundo tem um pouco. Ou pelo menos é o que diz esse antigo dito popular. Não sei dizer quanto ao ‘médico’, mas da outra parte, eu assumo a minha parcela de loucura. Afinal, eu não seria tão submerso na literatura se não fosse uma pessoa que certamente precisa de terapia.
Para mim, a literatura sempre foi uma forma de aplacar este estigma mental. Em vez de simplesmente rotular como ‘louco’ qualquer ser humano mais complexo que pense ‘fora da caixinha’, os livros apresentam definições que nos mostram diferentes nuances dessa característica, criando uma consciência e compaixão com certos casos.
Abaixo você encontrará alguns livros que olham com mais atenção para este fato, e constroem uma outra definição sobre o termo ‘loucura’.
✔ Objetos Cortantes, de Gillian Flynn
Recém-saída de um hospital psiquiátrico, onde foi internada para tratar a tendência à automutilação que deixou seu corpo todo marcado, a repórter de um jornal sem prestígio em Chicago (EUA), Camille Preaker, tem um novo desafio pela frente. Frank Curry, o editor-chefe da publicação, pede que ela retorne à cidade onde nasceu para cobrir o caso de uma menina assassinada e outra misteriosamente desaparecida.
Desde que deixou a pequena Wind Gap, no Missouri (EUA), oito anos antes, Camille quase não falou com a mãe neurótica, o padrasto e a meia-irmã, praticamente uma desconhecida. Mas, sem recursos para se hospedar na cidade, é obrigada a ficar na casa da família e lidar com todas as reminiscências de seu passado.
Entrevistando velhos conhecidos e recém-chegados a fim de aprofundar as investigações e elaborar sua matéria, a jornalista relembra a infância e a adolescência conturbadas e aos poucos desvenda os segredos de sua família, quase tão macabros quanto as cicatrizes sob suas roupas (Editora Intrinseca).
✔ Pelado, de David Sedaris

São histórias maravilhosas como a de uma mãe sarcástica que faz imitações implacáveis dos tiques nervosos de seu filho para o deleite dos professores; de viagens com um toque de Kerouac, feitas (é claro!) com uma companheira quadriplégica; da família que se reúne para um casamento na iminência da morte da mãe; da experiência em uma colônia nudista barata. As narrativas de Pelado relatam a infância em Raleigh e os percalços de sua juventude como caroneiro, colhedor de maçãs, ator embrionário, estudante universitário, pintor de paredes, nudista… David, seu personagem-narrador, é insuportavelmente trapalhão, maliciosamente charmoso, alegremente esnobe, extravagantemente espirituoso, irreverente, obsessivo, absurdo, dotado de uma imaginação que está em permanente marcha acelerada e de um comportamento que é, quase sempre, arriscado.
Como muitos dos heróis cômicos de Mark Twain, Oscar Wilde e Voltaire , David é prisioneiro de uma vida de tédio e banalidade e da proliferação de tolos: destaca-se como um dos personagens mais inesquecíveis e cativantes da literatura, através de narrativas completamente subversivas (Editora Lugano).
✔ Garota, Interrompida, de Susanna Kaysen

Corpo e mente, em processo de busca, trancada com outras garotas de sua idade. Garotas marcadas pela sociedade, excluídas, consideradas insanas, doentes e descartadas logo no início da vida adulta. Polly, Georgina, Daisy e Lisa. Estão todas ali. O que é a sanidade? Garotas interrompidas.
Um relato pessoal, intenso e brutal que nos faz refletir sobre nosso papel na sociedade, Garota, Interrompida é uma leitura obrigatória, que inspirou o filme homônimo sucesso de bilheteria que concedeu a Angelina Jolie seu papel mais importante e o Oscar de melhor atriz coadjuvante (Editora Única).
✔ Uma Mente Inquieta, de Kay Jamison

Como psiquiatra, a autora sabia do estigma que a doença carregava e se preocupava com a repercussão de suas confissões entre pacientes e colegas. No início algumas pessoas ficaram realmente chocadas com as revelações. Kay Redfield Jamison recorda-se: “Eles diziam: Você parece tão normal! Você não parece alguém que teve problemas mentais a vida inteira!…” As primeiras reações apenas fortaleceram a decisão da psiquiatra Kay Redfield Jamison. “Minha vida profissional foi toda dedicada a ajudar as pessoas a entenderem e a aceitarem a doença. Se um professor de psiquiatria não fosse capaz de se abrir em relação à sua condição, quem poderia?” (Editora Martins Fontes).
✔ Um Estranho no Ninho, de Ken Kesey

Ao ser condenado por um crime, ele se finge de louco para escapar da cadeia e agora enfrenta os desafios de uma instituição em que a insegurança e o medo imperam sob o comando de uma sádica enfermeira. Logo, McMurphy descobre que pode modificar aquela realidade, transformando suas vidas para sempre.
A fim de quebrar a rotina e demonstrar seus pensamentos, ele desobedece às regras do manicômio e passa a ser considerado um líder protetor pelos outros pacientes. Mas, ao mesmo tempo, ganha a inimizade da enfermeira-chefe. O livro trata, entre outras questões, de relacionamentos, saúde mental, isolamento e atenção a pessoas com transtornos mentais (Editora Record).
✔ A Desconstrução de Mara Dyer, de Michelle Hodkin

Para ajudá-la a superar o trauma a família decide mudar para uma nova cidade, um novo começo. Todos estão empenhados em esquecer. E Mara só quer lembrar. Ainda mais com as alucinações – ou seriam premonições? – Os corpos e o véu entre realidade, pesadelo e sanidade se esgarçando dia a dia. Ela precisa entender o que houve para ter uma chance de impedir a loucura de tomá-la (Editora Record).
✔ A Redoma de Vidro, de Sylvia Plath

Lançado semanas antes da morte da poeta, o livro é repleto de referências autobiográficas. A narrativa é inspirada nos acontecimentos do verão de 1952, quando Silvia Plath tentou o suicídio e foi internada em uma clínica psiquiátrica. A obra foi publicada na Inglaterra sob o pseudônimo Victoria Lucas, para preservar as pessoas que inspiraram seus personagens.
Assim como a protagonista, a autora foi uma estudante com um histórico exemplar que sofreu uma grave depressão. Muitas questões de Esther retratam as preocupações de uma geração pré-revolução sexual, em que as mulheres ainda precisavam escolher se priorizavam a profissão ou a família, mas A redoma de vidro segue atual. Além da elegância da prosa de Plath, o livro extrai sua força da forma corajosa como trata a doença mental.
Sutilmente, a autora apresenta ao leitor o ponto de vista de quem vivencia o colapso. Esther tem uma visão muito crítica, às vezes ácida, da sociedade e de si mesma, mas aos poucos a indiferença se instaura, distanciando a moça do mundo à sua volta. “Me sentia muito calma e muito vazia, do jeito que o olho de um tornado deve se sentir, movendo-se pacatamente em meio ao turbilhão que o rodeia”.
Ao lidar com sua depressão, Esther também realiza a transição de menina para uma jovem mulher. Mais que um relato sobre problemas mentais, A redoma de vidro é uma narrativa singular acerca das dores do amadurecimento (Editora Biblioteca Azul).
Veja Também: