Editora Alfaguara traz o ‘velho’ e o ‘novo’ de Marcelo Rubens Paiva
Já está em pré-venda os próximos lançamentos da Editora Alfaguara para agosto, que não por acaso é uma vistosa dobradinha com o autor Marcelo Rubes Paiva, sendo uma nova edição do clássico ‘Feliz Ano Velho’ e o recente ‘Ainda estou aqui’. Confira abaixo
✔ Feliz ano velho

O autor confere à narrativa a mesma energia e o mesmo fôlego com que transpôs a armadilha do destino. Imóvel numa cama, Marcelo, o personagem, dá asas às lembranças e à imaginação. Foram 12 meses de uma recuperação lenta e dolorosa: dias e noites intermináveis numa UTI (a “antessala do céu ou do inferno”), o colete de ferro, a descoberta de que teria como extensão do seu corpo uma cadeira de rodas, os momentos em que chegou a pensar em suicídio.
Marcelo, o narrador, se encarrega de colocar em palavras a relação de amor e respeito à mãe, o carinho das irmãs, a camaradagem e o encorajamento da turma, as festas e as fantasias sexuais. O acidente no lago seria o segundo tranco na vida do garoto. O primeiro foi aos 11 anos: o “desaparecimento” do pai — o ex-deputado federal Rubens Paiva — pela ditadura militar. Um despertar violento da consciência política.
Apesar do tema trágico, o livro — que se tornou uma referência na literatura brasileira contemporânea — explode de humor, ternura e erotismo. O texto expressa a irreverência e a determinação da juventude, mesmo na adversidade. E a compreensão precoce “de que o futuro é uma quantidade infinita de incertezas”.
✔ Ainda estou aqui
Verão de 1971. Eunice Paiva, recentemente liberada de um período de prisão e interrogatório durante doze dias no DOI-Codi, no Rio de Janeiro, passa alguns dias com amigos em Búzios. Segundo Antonio Callado, respirava aliviada; o próprio ministro da Justiça havia lhe garantido que seu marido, Rubens Beyrodt Paiva, “já tinha sido interrogado, passava bem e dentro de uns dois dias estaria de volta a sua casa”. Rubens Paiva, no entanto, capturado em sua própria casa por homens da aeronáutica em 20 janeiro de 1971, foi torturado, morto e seu corpo nunca mais foi encontrado. “A cara de Eunice”, escreve Callado, “continuou molhada e salgada durante muito tempo, tal como naquela manhã de Búzios. A água é que não era mais do mar.”
Neste livro, Marcelo Rubens Paiva faz um retrato emocionante da mãe Eunice e, pela primeira vez, traça uma história dramática do que ocorreu — e do que pode ter ocorrido — com Rubens Paiva. “Meu pai, um dos homens mais simpáticos e risonhos que Callado conheceu, morria por decreto, graças à Lei dos Desaparecidos, 25 anos depois de ter morrido por tortura”, narra ele, neste livro magistral. Eunice “ergueu o atestado de óbito para a imprensa, como um troféu. Foi naquele momento que descobri: ali estava a verdadeira heroína da família; sobre ela que nós, escritores, deveríamos escrever”.
Eunice Paiva é uma mulher de muitas vidas. Mãe de cinco filhos, viu-se obrigada a criá-los sozinhos quando, em janeiro de 1971, Rubens Paiva foi preso por agentes da ditadura. Em meio à dor e às incertezas, ela se reinventou. Voltou a estudar, tornou-se advogada, defensora dos direitos indígenas, militante na luta pelos direitos humanos. Criou os cinco filhos. Nunca chorou na frente das câmeras. “Foi a minha mãe quem ditou o tom, ela quem nos ensinou”, escreve Marcelo Rubens Paiva, nesse relato emocionante sobre memória, perda e a volta por cima.
Ao falar de Eunice, e de sua última luta, desta vez contra o Alzheimer, ele fala também da memória, da infância e do filho. E mergulha num momento negro da história recente brasileira para, pela primeira vez, contar — e tentar entender — o que de fato ocorreu com Rubens Paiva, seu pai, naquele janeiro de 1971.